Artigo de Medicina e Saúde®
Nº 104 / Junho de 2006
66 Opinião: Branqueamento e dentistas - verdades e mentiras
- Dr. Carlos Adriano
Branqueamento dentário, jet-set, health clubs, marketing, franchisings… podem ser ligações perigosas, no mínimo controversas.
O conceito de «Wellness», bem-estar saudável, invadiu a
Medicina Dentária e, em Portugal, fazem-se tratamentos dentários... em SPAs, cabeleireiros e ginásios!!!
Os DENTES BRANCOS dão a aparência de ser mais jovem, logo saudável.
Também de ser inteligente, rico, com sucesso, porque quem sorri aparenta não ter problemas, irradia felicidade, contente com a vida!
Verdade incontestável torna-se mais atraente, mas... sabia que o método tão divulgado na actualidade, principalmente em meios de comunicação social femininos e na denominada imprensa «cor-de-rosa» escrita e televisiva, onde é comum o jet-set dar a cara (neste caso os dentes!), jornalisticamente divulgam incorrectamente, porque «branqueiam» a informação ao omitirem que nomeadamente a A.D.A., American Dental Association, organismo de credibilidade e referência exemplar, continua a não possuir na sua lista de Produto Aprovado sistemas de Branqueamento Activados por LASER?
«Yes!... Not A.D.A. approved!»
Muitos dos estudos existentes não são independentes, dado que a maioria é patrocinada, propagandeada pelos próprios «inventores» ou master franchisadores, e apesar de haver estudos actualmente em curso, a conclusão a que se tem chegado é aquela que os comerciais, ao tentarem-nos vender o método e equipamento, apresentam: «Dr. É MARKETING!».
Mesmo outros sistemas de LUZ não acrescentam mais-valia para a eficácia nem durabilidade do tratamento; meramente «defendem-se» de conotações de perigo e efeitos secundários associados ao LASER, dada a maior energia deste.
A maior rapidez do resultado, propagandeado pelos métodos de BRANQUEAMENTO com LUZ de ALTA INTENSIDADE, por enquanto, também é uma manobra de «marketing», para aliciar os incautos, mas sedentos de imagem, tipo «Artista de Cinema Americano»!
Na realidade, o produto (peróxido de hidrogénio com peróxido de carbamida) é similar ao utilizado no chamado branqueamento de consultório (Office bleaching), também com concentração elevada, mas possui aditivos/catalizadores, agentes sensíveis à Luz, energia fotónica, que se teoricamente seriam aceleradores de libertação do agente branqueador, aparentemente, não têm resultado «visível»!
Alguns sistemas até fornecem «calor», o que aceleraria a reacção, ou seja, algo incongruente, dado que quimicamente seriam necessários quase 80 graus para que o peróxido de hidrogénio reaja e liberte oxigénio e, além disso, o calor pode aumentar a sensibilidade dentária por aquecimento da própria polpa dentária com risco de necrose, o que obriga a posterior endodontia, vulgo desvitalização.
Avaliações independentes referem que dos profissionais consultados 26% assumiram utilizar “LUZ INTENSIFICADORA” por razões de Marketing, 20% utilizam por já estar integrado no sistema adquirido, 18% por percepção ou porque o doente procura a técnica, 16% acham melhores resultados e os restantes 20% não comentam, talvez por confidencialidade contratual.
O tempo de branqueamento em cadeira (Office bleaching) é similar ao do de luz de alta intensidade (Chair-side bleaching): trinta a sessenta minutos, com pequenas variantes, mas no fundo nos branqueamentos com Luz, verdade seja dita, vai sim é pagar mais!
Em alguns locais muito mais... depende do «Marketing»!
E mesmo bastante mais porque, para além da amortização do equipamento de luz de activação, que é bastante dispendioso, os locais que se dedicam a estes procedimentos, alguns em regime de exclusividade, clínicas ou gabinetes de branqueamento existentes até em health clubs, por questão de marketing, rodeiam-se de decoração dispendiosa, que mesmo que seja minimalista é de designer, muitos «gadgets» e têm de pagar a publicidade que fazem, incluindo os branqueamentos oferecidos ao «jet-set», até como os próprios assumem «rosadamente», fotografando com um branco sorriso!
Decididamente, a «Luz» não melhora o resultado, a eficácia, a rapidez, nem durabilidade!
Note-se que, após a sessão, nestes locais fazem questão que olhe logo para um espelho, e verá realmente os seus dentes mais brancos, e impingem-lhe uma série de produtos de manutenção!
Verdade seja dita, é que os dentes estão desidratados, o esmalte perdeu a hidratação superficial e está ligeiramente desmineralizado, para não falar dos espelhos «mágicos» com luz tipo negra!
Se não acredita, olhe para um espelho e seque com um guardanapo de papel metade da arcada dentária, ou olhe para os sorrisos nas... discotecas!
Alguns estudos «independentes» referem conseguir
branquear 7 a 8 graus, o que é falso, porque utilizam escalas de prótese (Vita Lumin) e não a natural (Vita 3D Master Shade Guide), medem com os dentes desidratados no final da sessão, utilizam um só avaliador e em condições não padronizadas.
Recentemente, divulgou-se que o Director do Instituto que realizou um desses estudos era simultaneamente da Comissão de Estratégia da marca franchisadora que patrocinou... o estudo! (Ocorreu nos EUA, mas existe em Portugal, «branqueada» com outro nome)
Apesar de não serem os únicos, repare que os centros ou profissionais que procuram mais «visibilidade» apostam no «jet-set» para promoção, estão associados a health clubs, centros de branqueamento ou corporações de estética, com publicidade até televisiva!
Paradoxalmente, clamam não ser um acto médico, mas sim de embelezamento estético, serão esteticistas (?), mas, por outro lado, fazem questão de dizer que são licenciados em Medicina Dentária.
Outros até se intitulam de professores, «inventores» e únicos a praticar a técnica, ou não pedem a correcção de peças jornalísticas com informação errada que assim os promove!
Ridiculamente, por vezes, vemos funcionárias auxiliares a realizar o trabalho, a destartarização preliminar e a aplicação do produto que chega a ter concentrações de 41% de peróxido de hidrogénio, o que apresenta riscos elevados.
Segundo a Directiva Cosmética da União Europeia, produtos com peróxido de hidrogénio com concentração superior a 0,1% não podem ser fornecidos aos clientes, nomeadamente cosméticos de aplicação facial, por, nomeadamente, risco oftalmológico.
Mas o(a) Leitor(a) sabe o que é o branqueamento dentário?
Na actualidade, o BRANQUEAMENTO em AMBULATÓRIO (HOME BLEACHING) e, nomeadamente, com moldeiras individualizadas (TRAY HOME BLEACHING), ou seja, executadas especificamente para o paciente, com produtos fornecidos pelo profissional, parece ser dos sistemas mais eficazes, duráveis, apesar de mais moroso, cerca de 10 a 15 dias.
Sabe porquê?
Porque o gel contacta mais tempo, tem maior superfície de contacto, não alastra à mucosa e as formulações fornecidas pelo dentista têm concentração superior às de venda livre.
É de realçar que o perfeccionismo técnico na obtenção de uma arcada dentária esteticamente perfeita é ultrapassado largamente pelo benefício psicológico percepcionado no paciente.
Porque maior visibilidade pretendem ter as pessoas que solicitam estes procedimentos.
Mas, principalmente, aconselhe-se com profissional honesto, Médico Dentista credenciado, em Clínica certificada!
Branqueamento
1) Dentes não vitais
Realizado em dentes com tratamentos endodônticos, vulgo desvitalizados, é realizado a partir do interior da câmara pulpar com peróxido de hidrogénio e perborato de sódio ou formulação com peróxido de carbamida.
2) Dentes vitais
Em consultório/Office Bleaching: com gel de peróxido de hidrogénio e/ou peróxido de carbamida, aplicado sobre a arcada com as mucosas protegidas, tem a variante Chair Side Bleaching, que utiliza um sistema de luz intensificadora, mas que estudos verdadeiramente independentes referem para nada servir, para além de efeito de marketing!
Em ambulatório/Home Bleaching: com sistemas de venda livre, menos eficazes, ou variante profissional Home Tray Bleaching, que implica a confecção de moldeiras individuais e fornecimento do produto pelo profissional com concentração mais elevada.
Branqueamento com luz
Diversos sistemas existem desde o LASER, ARCO de PLASMA, LED Light Emission Diodes, LUZ AZUL, XENON, HALOGÉNEO, Luz de Fotopolimerização, mas avaliações independentes referem que, dos profissionais consultados, 26% assumiram utilizar por razões de Marketing, 20% utilizam por já estar integrado no Sistema adquirido, 18% por percepção ou porque o doente procura a técnica, 16% acham melhores resultados e os restantes 20% não comentam.
Note-se que alguns franchising de branqueamento obrigam o Dentista a assinatura de confidencialidade de procedimentos e material.
Branqueamento dentário
São todas as técnicas que alteram a cor natural dos dentes vitais ou desvitalizados, através da remoção de coloração intrínseca (profunda) ou pigmentação extrínseca (superficial).
A HIGIENIZAÇÃO consiste em técnicas físicas e/ou químicas para remover pigmentação só da superfície (extrínseca), por exemplo, destartarização ultra-sónica, iónica, ou manual, polimento, jacto profiláctico de bicarbonato, acidificantes que foram banidos, mas infelizmente, na composição de alguns produtos de venda livre, até na televisão!
Admira-se? Existem à venda produtos de branqueamento com agentes ácidos que desmineralizam o esmalte, branqueando «milagrosamente» a curto prazo, mas com efeitos nefastos a médio prazo!
O branqueamento com H2O2 é realizado há cerca de 100 anos, com pasta de pedra-pomes e H2O2 (POWER BLEACHING)!
Por curiosidade, há milénios esfregava-se os dentes com cinza das fogueiras!
Verdades e mentiras
Branqueamento em jovens é inócuo. MENTIRA, tem de se aguardar a completa maturação amelodentinária, após os 15/16 anos.
Em crianças é possível. VERDADE, mas só se justifica se houver graves implicações psicológicas.
Sumo de limão ou acidificantes branqueiam. MENTIRA, desmineralizam o esmalte, provocando erosão grave.
Dentífricos com bicarbonato de sódio ajudam. VERDADE, higienizam por acção físico-química, mas pela instabilidade, se não for micronizado, provocam abrasão.
Incorporar sílica abrasiona o esmalte dentário. MENTIRA, pelo contrário, permite dosear e controlar o RDA, Rate of Dental Abrasion, ou seja, o grau de desgaste provocado pelo dentífrico.
Dr. Carlos Adriano
Médico Dentista FMDUL, e Médico de Clínica Geral FMUL