Artigo de Medicina e Saúde®
Nº 103 / Maio de 2006
12 Dossiê - Mais de 70% das portuguesas têm perímetro abdominal em excesso
Nos últimos 25 anos, os portugueses têm engordado vertiginosamente. Basta olhar em redor para perceber isso. Mas agora o estudo W-risk (Weight risk), inovador porque introduziu um novo factor – o perímetro abdominal (cintura) –, traduz a realidade em números: 73,3% das mulheres e 55,4% dos homens utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) têm gordura a mais à volta do abdómen.
Não é preciso ser obeso ou ter peso a mais para que o risco de ser afectado pelas doenças relacionadas com o excesso de gordura, entre as quais merecem lugar de destaque as cardiovasculares, seja maior. Está já comprovado que a gordura acumulada à volta da «barriguinha» é a que mais pode colocar a saúde em risco.
Como explica o Prof. Massano Cardoso, o epidemiologista que, juntamente com Associação Portuguesa de Médicos de Clínica Geral (APMCG), desenvolveu o estudo W-risk, «a existência de gordura debaixo da pele não tem as mesmas implicações que a gordura à volta das vísceras (intra-abdominal), porque esta produz várias substâncias que induzem a situações graves, nomeadamente a diabetes, a hipertensão arterial, aos enfartes do miocárdio ou aos acidentes vasculares cerebrais».
Mas, afinal, o que é o estudo W--risk? Apoiado pelo laboratório Sanofi-Aventis, este trabalho teve por objectivo avaliar a situação ponderal (tendência para o aumento de peso relacionada com o avançar da idade e com a diminuição do metabolismo e da actividade física) dos portugueses utentes do SNS e algumas situações de risco, sobretudo o cardiovascular.
O W-risk resultou da participação de 1500 médicos de Clínica Geral de 251 concelhos, sendo que cada um deles avaliou 10 dos seus doentes com idade igual ou superior a 18 anos. Neste estudo, foi introduzido um indicador que, até à data, não era usado na medição da obesidade – o perímetro abdominal (PA).
«Até agora, media-se a obesidade através do índice de massa corporal que não é capaz de contemplar todos os riscos inerentes ao aumento do peso. Com este estudo, pela primeira vez em Portugal, foi possível, através de uma amostra representativa da população que frequenta o SNS, mas que, no seu computo geral, não estará muito longe da população nacional, avaliar e quantificar o perímetro abdominal dos portugueses», explica Massano Cardoso.
«As portuguesas são, actualmente, as mais obesas da Europa»
«Os portugueses não estão nada bem no que respeita aos valores de risco no PA, sobretudo as mulheres, sendo que mais de 70% das portuguesas têm um perímetro abdominal superior a 80 cm (risco elevado) e mais de 52% têm mais de 88 cm (risco muito elevado)», alerta o epidemiologista.
No W-risk foram, também, apuradas algumas correlações entre os valores do PA e outras doenças, como a diabetes, a hipertensão arterial, o enfarte do miocárdio, o colesterol e os acidentes vasculares cerebrais (AVC).
«Com esta amostra, verificámos que quase 10% da população portuguesa sofre de diabetes. É um valor muito elevado, que ultrapassa o valor base (3% ou 4%), o que significa que a epidemia da diabetes já se instalou em Portugal», revela Massano Cardoso.
A principal conclusão deste estudo não é, portanto, nada animadora: «existe, no nosso País, um problema de obesidade abdominal demasiado prevalecente». E a que se deve tal facto? «Aos hábitos alimentares e comportamentais. O trabalho é, hoje em dia, mais sedentário e as melhorias económicas, verificadas nos últimos 25 anos, foram um factor determinante para a mudança de hábitos alimentares», conclui o especialista.
Madalena Barbosa/Saúde Pública®