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Artigo de Medicina e Saúde®

Nº 103 / Maio de 2006






48 Opinião: Dotações seguras salvam vidas
- Enf.ª Guadalupe Simões
Dotações seguras salvam vidas


É este o lema que vai assinalar mais um Dia Internacional do Enfermeiro, que se comemora no próximo dia 12 de Maio.

Nesta data assinala-se também o nascimento de Florence Nightingale, a mulher que para sempre estará associada à enfermagem moderna e ao seu objectivo mais nobre: ao longo da vida, no momento do nascimento como no momento da morte, é imprescindível que existam uns que cuidem de outros. Esses homens e mulheres são os ENFERMEIROS e as ENFERMEIRAS e a arte de cuidar é uma «arte» em constante aprofundamento e dinamismo.

Num momento em que se assiste a uma mudança no paradigma sobre a forma como se abordam as questões da saúde das populações, os enfermeiros assumem um papel ainda mais importante e relevante.

O Estado, constitucionalmente responsável pela prestação de cuidados de saúde, com qualidade e segurança, aos cidadãos tenta «sacudir» esta responsabilidade. Para isso vai utilizando um rol de subtilezas, entre elas, a utilização de propaganda enganosa assustando as pessoas com a falta de recursos financeiros que, para terem mais peso, são sustentados em «estudos técnicos» de independência duvidosa nomeadamente no que diz respeito aos verdadeiros objectivos. Se a qualidade dos cuidados prestados nos Blocos de Partos públicos deve ser uma preocupação do Governo, o mesmo deve acontecer relativamente aos Blocos de Partos privados. É também isto que se exige a um Estado regulador.

Na verdade, a Saúde tal como outros sectores essenciais para a manuten­ção da dignidade de cada um de nós enquanto pessoa humana, é vista pelos lacaios do capital como um bem comerciável. Os hospitais passaram a pertencer ao sector empresarial do Estado, tal como a EDP e a Portugal Telecom e quase apetece perguntar para quando uma OPA aos hospitais? As Unidades de Saúde Familiares (USF) correm o risco de não ser mais do que uma reorganização da forma de funcionamento dos profissionais e de pagar mais pelo mesmo, em detrimento do efectivo acompanhamento das populações.

Com todas estas alterações que materializam a «saúde como um bem de consumo passível de ser vendido ao melhor preço e a quem possa pagar», estamos confrontados com outra problemática. No pressuposto do gastar menos, nunca como agora e desde que a Saúde passou a ser um Direito para Todos, se verificou uma tão grande dificuldade na admissão de enfermeiros nas instituições e da sua manutenção, ainda que necessários. A «cegueira» é tanta que se diminui o número de enfermeiros nos serviços e por turno, privilegia-se os actos porque se podem contabilizar em detrimento das acções que interagem com o doente/utente/cliente e famílias. A humanização e a continuidade dos cuidados são conceitos que dizem muito pouco a estes responsáveis e esta é uma das razões pelas quais, por exemplo, proliferam com o aval do Ministério da Saúde, as empresas de subcontratação de enfermeiros.

Cuidar de outros, significa para os enfermeiros estar próximo das pessoas sãs ou doentes, das famílias, das populações. Significa desenvolver projectos de intervenção nas comunidades, nas escolas, nos locais de trabalho, nos domicílios. Significa ajudar as pessoas a adquirirem hábitos de vida saudável que possam contribuir para retardar o aparecimento de sinais de desequilíbrio físico e/ou sintomas de doença, assim como a prevenir acidentes domésticos, laborais ou outros.

Mas, claro, também significa estar junto daqueles onde já se declarou a doença, mais ou menos grave, nos hospitais, nos centros de saúde, outras instituições ou em casa. Têm um papel importantíssimo, nestes casos, na preparação do doente para a alta e dos familiares para que o recebam de novo no seu seio. O acompanhamento do doente, em fase terminal, é de todos e para todos, eventualmente o mais difícil, mas os enfermeiros também lá estão, garantido dignidade também neste momento.
É «um mundo» de intervenções que os enfermeiros concretizam de forma autónoma ou em colaboração com outros profissionais!

Aprofundar este «cuidar» dos outros é o que os enfermeiros continuam a reivindicar razão pela qual o tema proposto pelo Conselho Internacional dos Enfermeiros (ICN), organização internacional com sede da Suíça composta por associações de enfermeiros de 127 países, não podia ser mais actual.

Preocupados com a Segurança dos Doentes, o Conselho Internacional dos Enfermeiros lançou como tema para o Dia Internacional do Enfermeiro: DOTAÇÕES SEGURAS SALVAM VIDAS.

Na declaração de posição sobre este assunto o ICN afirma que a «segurança dos doentes é fundamental para cuidados de saúde e de enfermagem de qualidade» e neste contexto apresenta um conjunto de medidas que passam pelo recrutamento de mais enfermeiros, pela formação e manutenção destes profissionais nas instituições, na melhoria dos cuidados prestados, na promoção da segurança em torno da gestão do risco incluindo a luta contra as infecções hospitalares, o uso de seguro de medicamentos e o acervo de conhecimentos científicos centrados na segurança dos doentes. Os enfermeiros pelo facto de estarem 24 horas sobre 24 horas nos serviços têm uma responsabilidade acrescida na segurança dos doentes em todos os aspectos dos cuidados que lhes prestam.

Isto inclui informar de forma clara e transparente, quer doentes quer familiares relativamente às possibilidades de risco e sobre as possíveis formas de o reduzir incluindo o facto de, caso se verifique, o número de enfermeiros existentes não ser suficiente face às necessidades em cuidados de saúde dos doentes internados.

A comunicação de qualquer acontecimento adverso deve ser uma prática de todos os profissionais. A cultura da penalização dos profissionais face aos possíveis erros cometidos não beneficia uma prática de cuidados em segurança. Para que se atinjam objectivos é primordial que se fomente a confiança, a sinceridade e a integridade. A fiabilidade humana é uma qualidade porque nos permite aprender e nós, enfermeiros, também erramos.
A preocupação major relativamente a esta problemática é de todos.

Deve ser exigência de todos que a dotação nos serviços, no que diz respeito ao número de enfermeiros, permita prestações de cuidados de saúde em segurança quer para os doentes quer para os profissionais. Deve ser nossa exigência que a prestação de cuidados de enfermagem pelos enfermeiros esteja de acordo com as competências exigidas. Deve ser exigência de todos que se ponha um fim à precariedade de emprego, ao trabalho sem direitos e à possibilidade do recrutamento de enfermeiros, tal qual estivadores (com todo o respeito por estes) para fazerem um trabalho avulso numa qualquer instituição.

Inúmeros estudos internacionais, daqueles que são feitos por entidades idóneas, demonstram que um número reduzido de enfermeiros, aumento de pessoal não qualificado, ritmos de trabalho elevados, precariedade de emprego e a utilização de enfermeiros subcontratados, entre outras, determinam um aumento da morbilidade, da mortalidade, dos reinternamentos, dos erros e das situações de negligência. Dizem ainda que em serviços com dotações inferiores às necessidades, as actividades de enfermagem preteridas são o conforto e a comunicação com os doentes.

É neste contexto que, caro leitor, se tivermos em conta que a área nobre da profissão de enfermagem é a prestação de cuidados e a relação de ajuda com os doentes e familiares, então significa que a cada enfermeiro que todos os dias vai trabalhar está a ser exigido não só a sua disponibilidade física, mental e intelectual mas também que o faça violentando a razão porque um dia decidiu ser enfermeiro. QUE INJUSTO!

Enf.ª Guadalupe Simões
Vice-Coordenadora do Sindicato dos Enfermeiros
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