Artigo de Medicina e Saúde®
Nº 102 / Abril de 2006
60 Alimentação - Soja com conta, peso e medida
SOJA COM CONTA, PESO E MEDIDA
Hoje em dia, a soja é um alimento que entrou na moda, sendo que já é possível encontrar produtos de soja com grande facilidade. Conheça as vantagens e desvantagens deste alimento.
A soja é um alimento que encerra características diferentes das outras leguminosas secas, como o feijão, o grão ou a lentilha. Concretamente, o feijão de soja apresenta um teor proteico superior e é um alimento mais completo, contendo todos os aminoácidos essenciais. Mas atenção: não se confunda esta composição com o conceito de alimento completo «porque tal não existe, nenhum alimento isolado possui todos os nutrientes de que necessitamos», ressalva a nutricionista Florbela Mendes.
Uma das situações mais comuns em que ouvimos falar de soja, por exemplo, é quando vamos a um restaurante chinês. E são inúmeros os pratos na ementa confeccionados com… rebentos de soja.
No entanto, em certos conceitos da cozinha chinesa há o célebre «tofu», que tanto agrada particularmente a vegetarianos, mas não em exclusivo.
«O ‘tofu’ é feito a partir do leite de soja, sendo muito parecido ao vulgar queijo fresco. Este produto de soja oferece qualidades proteicas e é também excelente fonte de cálcio, sem gorduras saturadas.»
Este último aspecto assume importância no âmbito das doenças cardiovasculares, grande causa de morte e invalidez nas sociedades modernas ocidentais. O colesterol alto (total e LDL), como é cada vez mais do domínio de quem está minimamente informado, é uma das consequências responsáveis pelo crescimento daquele tipo de patologias.
«Há estudos publicados que atribuem à proteína de soja a propriedade de substância chave no combate ao chamado ‘colesterol mau’ (ou LDL) e na ajuda ao ‘colesterol bom’, o HDL, quando consumida em substituição das carnes, que possuem gorduras animais saturadas», refere a nutricionista.
Algumas contra-indicações
Além disso, algumas investigações sugerem que certos componentes da soja, nomeadamente uma classe de fitoestrogénios (isoflavonas) apresentam benefícios na redução do tal colesterol mau, mas não só. Há quem sustente que essas substâncias também têm capacidades de actuação a nível hormonal, sobretudo no que diz respeito às mulheres.
«Algumas perspectivas referem que as isoflavonas imitam o papel das hormonas femininas, sendo possivelmente responsáveis na redução dos sintomas da menopausa. Mas é um tema controverso e alvo de muita especulação. É preciso dizer que nas mulheres que tenham história familiar de cancros hormonais – mama, colo do útero, ovários – a soja e os seus derivados são pouco recomendáveis, justamente por causa da presença das isoflavonas, que são fitoestrogénios», revela Florbela Mendes.
Consumo intensivo desaconselhado... há que variar
Este facto conduz-nos a outro problema. E a um velho ditado que nos diz: «o que é demais não presta». E por isso, esta nutricionista especializada em alimentação vegetariana defende que «não é sensato as pessoas decidirem de repente começar a consumir soja todos os dias. Poderão estar a cometer um grande erro porque uma das vantagens de uma alimentação equilibrada e saudável reside na variedade».
Florbela Mendes acrescenta ainda, a este propósito, que «não devemos, por exemplo, comer todos os dias carne de vaca ou carne de porco ou de frango. Isto porque, infelizmente, todos os alimentos hoje em dia têm na sua composição substâncias que de uma forma ou de outra são nocivas, se consumidas intensivamente.
Hoje em dia se não variamos estaremos mais sujeitos à acção forte de uma determinada substância contaminante. E isso é prejudicial, aplicando-se de igual modo aos produtos derivados da soja, que devem ser consumidos tendo em conta uma noção de equilíbrio, sem fundamentalismos».
A questão da variedade também se aplica aos chamados vegetarianos, mas aqui tem mais relevo até. «Quem come carne e peixe consegue um aporte suficiente de proteínas ou ferro numa pequena porção desses alimentos a cada refeição, por exemplo. Mas aos vegetarianos é aconselhada a ingestão de uma maior quantidade e diversidade de alimentos, porque os nutrientes encontram-se mais dispersos nos alimentos de origem vegetal, de alimento em alimento.
Há, portanto, que saber inclusivamente planear essas dietas vegetarianas e também não é preciso comer soja todos os dias», refere Florbela Mendes.
No que diz respeito aos leites de soja, que já se encontram em qualquer superfície comercial, como alternativa ao leite de vaca, existem alguns aspectos que também devem ser considerados, aquando das escolhas. «Quase todos os leites de soja contêm cálcio, mas, pelo sim pelo não, há que procurar a indicação na embalagem».
Porém, o leite de soja não contém uma vitamina – a B12 – que só é encontrada no reino animal, e que, obviamente, existe no leite de vaca. A solução é obter um suplemento. «Era em algo que os fabricantes do leite de soja poderiam pensar: se podem acrescentar cálcio, porque não vitamina B12?», considera a nutricionista, Florbela Mendes.
Principais produtos derivados da soja
A soja entra na confecção de alimentos variados, mas também na produção industrial, onde o seu leque de aplicação também é extenso. Ficam, no entanto, aqui as utilizações mais comuns na alimentação.
• Leite de soja: tem de ser enriquecido com cálcio, este é um pormenor muito importante. O consumidor deve verificar nos rótulos.
• Tofu: existe nas lojas de produtos especializados.
• Proteína de soja texturizada: existe em granulado, para hambúrgueres ou empadões, por exemplo; em cubos (para fazer «jardineira»).
• Miso: pasta de soja fermentada, muito rica em proteínas, muito salgada e apaladada, para dar sabor a determinados alimentos que são apresentados, por exemplo, nos restaurantes japoneses.
Texto: David Carvalho