Artigo de Medicina e Saúde®
Nº 100 / Fevereiro de 2006
50 Clínica Geral - Apendicite
A certeza do diagnóstico é determinante
A apendicite é um problema que surge em qualquer idade, com um pico no adulto jovem. É mais rara no idoso e antes dos 4 anos. A dor intensa é algo que assusta, até quem está junto da pessoa que começa a apresentar queixas. Não é um quadro tão simples como se pensa e todo o cuidado é pouco, quando surgem alguns sintomas.
Este pequeno tubo que se destaca do intestino grosso tem cerca de 10 cm de comprimento. Em média, é ligeiramente mais espesso que um lápis. A inflamação do apêndice é provocada por fezes, com infecção secundária. Este prolongamento do intestino «deve ter assumido um papel importante na evolução do homem e é um sinal disso mesmo», declara o Dr. Mário Sousa Dias, médico de Clínica Geral.
A acontecer uma inflamação é obra do acaso. Tem a ver com as condições anatómicas e imunológicas de cada indivíduo. «Desde logo, não somos todos do mesmo tamanho e a localização do apêndice também não é igual em todas as pessoas», diz o médico.
A apendicite é muito comum, sobretudo quando falamos nos problemas do abdómen que exigem cirurgia. Algo que é sempre necessário, para anular a questão. Perante o desenvolvimento de um processo inflamatório e infeccioso, pode haver a formação de um abcesso e inclusive uma perfuração no peritoneu (membrana que envolve o apêndice). Aqui reside a complicação mais grave: a peritonite, que resulta potencialmente em morte. Essa possibilidade extrema pode ser bem real. «O conteúdo intestinal espalha-se na cavidade abdominal. Daí surge uma infecção bacteriana muito perigosa e de difícil controlo», afirma Mário Sousa Dias.
Neste contexto, é muito importante a perícia do diagnóstico. Entre os sintomas mais característicos está a dor abdominal, que inicialmente aparece no epigastro (zona inferior direita do abdómen) e/ou na zona do umbigo. Associa-se a vómitos e enjoo. Algum tempo depois desloca-se para a fossa ilíaca direita (zona inferior direita do abdómen). O ventre costuma apresentar dureza, ficando como uma tábua.
Registam-se igualmente ligeiros sintomas febris, cuja temperatura geralmente não ultrapassa os 38 graus, bem como falta de apetite. Este é o quadro clínico clássico que aparece em menos de metade das situações. No entanto, o diagnóstico deve ser confirmado pelo médico, de modo a que haja certezas absolutas e sejam tomadas as medidas terapêuticas adequadas. «É que o quadro pode ser atípico e levantar questões. Às vezes pode ser necessário toque rectal ou vaginal para haver certezas, por exemplo», refere o médico.
Nos chamados quadros atípicos, em que a sintomatologia não é tão clara, a apendicite pode ser confundida com uma gastrenterite, uma doença inflamatória pélvica ou mesmo uma gravidez ectópica, uma cólica renal e uma série de outras situações. Por isso, é necessário recorrer a uma laparotomia (abertura cirúrgica do abdómen), para a obtenção de uma certeza no diagnóstico.
Através da intervenção cirúrgica, abrindo a zona do abdómen, o apêndice é removido. A partir daí, a alta do hospital depende da velha máxima da Medicina: cada caso é um caso.
«Numa situação que já estivesse muito avançada o internamento pode ser mais prolongado mas normalmente o indivíduo tem alta dentro de poucos dias», explica Mário Sousa Dias.
Texto: David Carvalho
Fotos: Ricardo Gaudêncio