Aos 45 anos o Dr. Paulo Maló é um dos mais prestigiados e carismáticos especialistas em implantes dentários, tendo inclusive criado a técnica «All-on-4».
«Sou doente do perfeccionismo»
Aos 45 anos, Paulo Maló só pode ser considerado um homem de sucesso. É um dos mais prestigiados e carismáticos especialistas em implantes dentários, tendo inclusive criado a técnica «All-on-4», que possibilita a reconstrução da arcada dentária superior e/ou inferior com apenas quatro implantes.
Actualmente, o Grupo Maló está espalhado pelos quatro cantos do globo, tendo mais de uma dezena de filiais, grande parte delas das maiores clínicas a nível mundial. Segundo o fundador do Grupo, «onde estamos, salvo raras excepções, somos sempre a maior clínica de reabilitação oral do país».
Todo este império de reabilitação oral começou verdadeiramente em 12 de Setembro de 1961, em Moçâmedes, Angola. O dentista recorda: «O meu pai costumava dizer que eu nasci no ano em que começou o terrorismo em Angola.»
Paulo Maló é o mais velho dos três filhos, com um irmão um ano mais novo e uma irmã com menos seis anos. Ambos os progenitores também nasceram em Angola, tendo o pai iniciado a sua actividade como caçador profissional e tendo-
-se, posteriormente, dedicado à agricultura e criação de gado, além de ter sido proprietário de minas de cobre.
«As recordações que tenho de Angola são das melhores possíveis. Só saí de lá quase obrigado, como a grande maioria das pessoas, em 1975, pelos motivos históricos óbvios. Saí de Angola e fui para a África do Sul, onde fiquei até 1982, ano em que vim para Portugal», recorda.
Na África do Sul, realiza todo o liceu e acaba por ingressar num mundo por onde andou a deambular à procura do caminho que queria seguir. Essa procura levou-o a enveredar por estradas e opções díspares, desde a Biologia Marinha à Medicina ou Física Nuclear.
«Eu entrei muito cedo na Universidade porque houve uma altura em que fiz dois anos em seis meses. Ora, era um miúdo e não sabia o que queria, logo, fui sendo influenciado por algumas coisas que me rodeavam. Comecei por ir para Biologia Marinha por causa do Jaqques Cousteau.
Rapidamente me apercebi que seria uma vida passada no laboratório em vez da investigação no terreno e por isso abandonei o curso. Depois, tive um professor que trabalhava em Cabo Canaveral e, como estávamos na altura das viagens ao espaço e essas coisas, fui para Física Nuclear, mas onde estive muito pouco tempo. Mais tarde, houve algo que fez uma espécie de clique, que foi a Medicina, muito por culpa do Christian Barnard, o médico que fez o primeiro transplante cardíaco e que, além de sul-africano, foi meu professor», recorda Paulo Maló.
Já em Portugal, a Medicina Dentária
Curiosamente, e apesar de quatro anos a estudar Medicina, acabaria por não concluir o curso. Já em Portugal, mais especificamente em Coimbra, garante algumas equivalências e, mais uma vez, vê-se perante a necessidade de tomar nova decisão.
O especialista recorda que, «na altura, quando estava em Medicina por causa da influência que referi, estava interessado na Medicina Cardiotoráxica».
«Mais tarde, o campo da Neurocirurgia começou a ser cada vez mais apelativo. Fascinava-me as coisas que não controlávamos. As paralisias e o facto de não sermos capazes de reparar um corte na medula. Na senda das reparações, também a cirurgia plástica reconstrutiva tinha um grande cariz apelativo. Em Coimbra, quando estava na fase da decisão, o facto de ter dois tios dentista levou a melhor e fui para Medicina Dentária.»
Ambivalente é a forma como Paulo Maló encara os seus desafios e projectos. A maturação e a idealização de algo pode levar anos em ponderação, mas, depois de todas as dúvidas dissipadas, a impaciência assume o papel principal.
«Como doente do perfeccionismo, quero controlar tudo e saber de tudo o que se passa. Lembro-me, por exemplo, de que, depois de ter criado a técnica do «All-on-4», demorei perto de cinco anos a publicá-la. Queria ter a certeza absoluta de que estava tudo certo antes de divulgar a tese. É que se não corre como quero, se há algum imprevisto, lido muito mal com isso, chego mesmo a perder o sono. É o problema de quem é perfeccionista. Vemos sempre erros onde mais ninguém os encontra», declara.
Para o dentista português, o sucesso profissional é algo que pode ser alcançado. E não hesita em afirmar:
«Tenho muitos amigos que são pessoas que só podem ser consideradas de sucesso, e reparo que essas e outras pessoas que admiro, como o Eng.º Belmiro Azevedo ou Bill Gates, que são indivíduos que alcançam feitos extraordinários, todos têm algo em comum – atitude. A forma como encaram as coisas, a atitude com que tratam dos seus assuntos faz toda a diferença.»
Râguebi, a escola do sucesso
Esta noção de a união faz a força advém dos tempos em que jogava râguebi, aquele que é, sem dúvida, o seu desporto de eleição, apesar de já ter praticado muitos.
«O râguebi foi a escola para o meu sucesso como empresário. Enquanto que noutros desportos um fora de série faz uma grande diferença, no râguebi isso não se nota. Há a união de todos em prol do sucesso colectivo e temos mesmo jogadas em que o indivíduo se sacrifica para proteger o colega de modo a que ele tenha sucesso, logo, a equipa terá sucesso. Obtive deste desporto muita da alma e noção de como encarar o mundo empresarial e não só. Também vem muito de mim. Desde muito novo que faço desporto e fui atleta das selecções de Portugal e da África do Sul, em várias modalidades, no râguebi, em basquete, no atletismo e também na natação. Ainda hoje só consigo “desligar” com actividade física», declara Paulo Maló.
Essa mesma paixão pelo exercício faz com que já tenha experimentado um conjunto amplo de actividades. De entre essas, surge outra das suas paixões: o mergulho, que aproveita para fazer sempre que tem possibilidade, apesar de alguns sustos de ocasião.
«Adoro fazer mergulho. Ainda ficou da influência do Jaqques Costeau e do curso de Biologia Marinha. Para mergulhar sem garrafa, o meu local de eleição é Cabo Verde, enquanto que para mergulho com garrafas então prefiro as ilhas Taiti. Claro que nem tudo são rosas. Já fui atacado uma vez por uma moreia e duas vezes por tubarões», sustenta.
Actualmente, Paulo Maló é um cidadão do mundo, passando mais de meio ano em viagens.
«Já não tenho necessidade de ter este ritmo, mas sinto falta de não trabalhar. Adoro trabalhar. Para mim, trabalhar são férias. Podemos considerar que sou um workaholic, mas não pelo facto de ser viciado no trabalho, mas sim porque tenho genuíno prazer no que faço.»
Toda esta azáfama e exigência de disponibilidade faz com que a vertente familiar sofra com a falta de tempo. A este propósito, o empresário advoga que «conciliar a questão profissional com a pessoal é uma gestão complicada.
A minha irmã trabalha comigo, por isso, essa parte está resolvida. A minha mulher e a minha filha, mesmo que seja pouco tempo, ainda as vou vendo todos os dias. Quando estou em casa, brinco com a minha filha até ela adormecer. Estar com ela é tempo de qualidade. O mais complicado é o meu irmão, porque temos poucas oportunidades de estar juntos. Os meus pais e a avó Ana moram em Coimbra e sempre que posso, levo-os em viagens comigo. Se a montanha não vem a Maomé, vai Maomé à montanha».
Texto: Cátia Jorge
Fotos: Jorge Correia Luís