- Prof. Doutor Lino Gonçalves
Com Vilamoura como cenário, o XXXIII Congresso Português de Cardiologia, que terá lugar de 22 a 24 de Abril de 2012, tem como lema Reunir em equipa para proteger e tratar o coração e é considerado pelo seu presidente, o Prof. Doutor Lino Gonçalves, como «um momento único da Cardiologia Portuguesa».
O programa científico deste Congresso é vasto, permitindo, para além da formação médica continuada para os profissionais de saúde, mostrar o que de melhor se faz em Portugal em termos de investigação científica cardiovascular. Para além disso, o evento irá também «permitir passar à população uma mensagem clara de prevenção cardiovascular».
Jornal de Congresso (JC) – Reunir a equipa para proteger e tratar o coração é o lema do Congresso. O que levou à escolha deste tema?
Prof. Doutor Lino Gonçalves (LG) – A escolha deste tema relaciona-se com o facto de, hoje em dia, no contexto dos serviços de Cardiologia, o trabalho ser efectuado cada vez mais em equipa com outros colegas e profissionais de saúde. Socorremo-nos, muitas vezes, da
expertise não só de colegas da nossa especialidade como também de colegas de outras especialidades para, em conjunto, assegurar um melhor diagnóstico, tratamento e orientação para os nossos doentes. Para além disso, o apoio coordenado fornecido por enfermeiros e técnicos revela-se fundamental na prática clínica moderna para que, mais uma vez, o trabalho desta equipa seja eficaz.
Esta equipa, denominada a nível internacional por
heart team, é citada cada vez com mais frequência nas
guidelines da Sociedade Europeia de Cardiologia, como algo a ser constituído e que deve ser reforçado e estimulado no nosso dia-a-dia.
JC – Podemos, então, dizer que o Congresso tem interesse não só para cardiologistas como também para outros especialistas?
LG – Seguramente. O programa está formatado de maneira a ser constituído por sessões onde esta filosofia do heart team é considerada. Aliás, irá ser colocada no programa científico uma chamada de atenção para identificar as sessões onde serão debatidos temas que envolvem outras áreas do conhecimento científico e um trabalho de equipa. Essas mesas-redondas vão integrar, tanto quanto possível, colegas de outras especialidades.
Para além de cardiologistas, esperamos que especialistas em Cirurgia Cardíaca, Cardiologia Pediátrica, Medicina Interna, Medicina Geral e Familiar, Pneumologia, Endocrinologia, Farmacologia, Geriatria, Neurologia, Imagiologia e Nefrologia, entre outros, estejam presentes no nosso Congresso em número significativo.
JC – Afirmou que seriam abordadas várias áreas. Quais?
LG – Este programa do Congresso reflecte a escolha da Comissão Científica, que representa todos os grupos de estudo e associações que constituem a Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC), exprimindo, assim, a sua vontade. Para além disso, decidimos, este ano, fazer uma iniciativa original dentro da SPC, que consistiu em abrir o programa científico aos sócios. Essa abertura foi possível graças à colocação no nosso portal de um programa informático que permitiu aos sócios colocar lá as suas sugestões e votar naquelas que achavam de maior qualidade.
Foi um êxito enorme. Recebemos 58 propostas de sessões, o que só por si daria para organizar o Congresso. Recebemos também um total de 480 votos. Foi assim fácil à Comissão Científica identificar as 10 propostas mais votadas e considerá--las para integração no programa científico do Congresso. Dessas, foram escolhidas nove, o que, de facto, reflecte não só a qualidade das propostas enviadas, mas sobretudo a vontade dos seus sócios.
Além da Cardiologia Clínica, o programa científico contempla várias patologias, como a insuficiência cardíaca, a doença coronária aguda e crónica, as miocardiopatias, a doença valvular, as arritmias, a hipertensão arterial, a hipertensão pulmonar, a prevenção e reabilitação cardiovascular, as doenças congénitas e a cirurgia cardíaca.
São, também, abordados temas importantes, que actualmente são alvo de intensa discussão científica, nomeadamente as novas formas de anticoagulação e de antiagregação.
Este ano, a Cardiologia Invasiva, que tem um papel cada vez mais importante dentro da Cardiologia Clínica, tem um destaque especial. Uma parte significativa do programa envolve áreas de conhecimento ligadas quer ao
pacing e à electrofisiologia, quer à própria Cardiologia de Intervenção.
Não será esquecida também a investigação básica, com uma mesa dedicada a temas que o cardiologista clínico precisa de saber.
Não esquecemos também o papel cada vez mais importante que os técnicos e enfermeiros desempenham no manuseamento dos nossos doentes e, por esse motivo, existirão quatro mesas que irão debater esses temas específicos.
É um programa muito variado que vai ter, inclusivamente, temas vocacionados para os colegas de Medicina Geral e Familiar, sobretudo a aplicação das recomendações europeias na prática clínica, com a discussão em sessões específicas de casos clínicos.
A aplicação destas directrizes europeias vai ter um espaço muito importante neste Congresso, uma vez que vai ser abordada em diversas sessões. A própria Sociedade Europeia de Cardiologia aceitou participar num simpósio, conjuntamente com a SPC, onde irão ser discutidas as
guidelines e a sua implementação no terreno. A Sociedade Brasileira de Cardiologia disponibilizou-se também para discutir algumas destas recomendações com a Sociedade Portuguesa.
Grupos especiais de doentes cardíacos, tais como os idosos e as mulheres, serão também alvo de tratamento diferenciado no programa científico.
Para além de tudo isto, irão ser apresentados, também, ao longo deste Congresso, os resultados do programa de registos, que a nossa Sociedade desenvolve há cerca de dez anos. É, pois, um programa muito variado, interessando a vários grupos de profissionais de saúde.
JC – No que respeita aos tratamentos de que falou, vão ser abordados em simpósios satélite da Indústria Farmacêutica?
LG – Sim. Ainda não tenho, neste momento, dados finais para apresentar, mas existe o interesse por parte da indústria em debater, nestes simpósios satélites, temas que vão desde novos agentes antiagregantes e anticoagulantes a fármacos para o tratamento da dislipidemia e hipertensão pulmonar. Para além disso, existe também o interesse em mostrar alguns avanços recentes na área da terapêutica invasiva, mas em breve espero ter dados mais concretos para vos apresentar. Aproveitava esta oportunidade para agradecer à indústria o esforço que irá fazer nestes momentos difíceis para estar presente no nosso Congresso com a dedicação e empenho que sempre tem demonstrado.
JC – Que outras iniciativas se vão realizar durante o Congresso?
LG – Vamos tentar fazer com que este Congresso seja um momento privilegiado de encontro e de
networking entre todos os sócios que têm a possibilidade de se deslocar a Vilamoura. Esta é uma zona que tem condições muito especiais, onde as pessoas podem estar dedicadas ao congresso, complementar a sua actualização e promover o debate de ideias e a troca de informação.
Mas, para além disso, vamos complementar o programa com algumas iniciativas já habituais em congressos anteriores, nomeadamente, a caminhada. O objectivo é tentar passar, neste momento, uma mensagem de prevenção cardiovascular.
Este ano, pretendemos realizar, em simultâneo com a caminhada, um jogo de equipa para os sócios que gostam de jogar futebol.
Contamos, para esse efeito, com a ajuda da Câmara Municipal de Loulé, que se disponibilizou não só para nos apoiar, em termos logísticos, mas também para levar a população escolar do primeiro ciclo do concelho a participar neste evento.
Irão ser distribuídas
t-shirts a que, carinhosamente, chamamos as t-shirts do «A, E, I, O, U da prevenção cardiovascular». Isto porque têm, na parte de trás, mensagens relacionadas com estas letras: «A» de alimentação saudável, «E» de exercício físico regular, «I» de inibição de fumar, «O» de omitir o sal da mesa e «U» de uma consulta por ano. Contamos que os jovens que participem neste evento levem para casa essas
t-shirts e a mensagem de prevenção cardiovascular, o que pode equivaler a largas centenas de famílias que poderão receber directamente esta informação.
Teremos, pela primeira vez no nosso Congresso, a possibilidade de ter a apresentação de cartazes apenas sob a forma electrónica, sendo o formato em papel abandonado. Este avanço irá permitir uma valorização muito significativa dos cartazes.
Estará também disponível no nosso Congresso uma
Invasive Village, a pedido da indústria de equipamento e dos dispositivos, onde a vertente invasiva da indústria terá o seu espaço dedicado. Algumas novidades poderão também lá ser apresentadas. Mas isso ficará para os próximos números deste
Jornal do Congresso.
Iremos também privilegiar os novos sistemas de comunicação electrónica, sendo que o
Facebook, o
Twitter e a internet serão veículos de comunicação importantes neste Congresso. A título de exemplo, está a ser planeada a transmissão em directo, pela internet, para o Brasil dos dois simpósios luso-brasileiros.
Está também a ser organizado um jantar humanitário de apoio a crianças com trissomia 21, que frequentemente sofrem de patologia cardiovascular. Os detalhes desta iniciativa serão fornecidos em próximos números deste
Jornal do Congresso.
JC – Vão realizar-se cursos pré-congresso?
LG – Irão realizar-se, no sábado à tarde, três cursos pré-congresso. Um vocacionado para os colegas da Medicina Geral e Familiar, que se relaciona com a aplicação das
guidelines europeias no contexto da fibrilhação auricular e das dislipidemias. Não será constituído por sessões formais teóricas, mas sim pela apresentação e discussão de casos clínicos, a propósito dos quais será discutida a aplicação das respectivas
guidelines.
Um segundo curso está muito vocacionado para os jovens internos de Cardiologia e será subordinado à investigação científica. Foram eles próprios que solicitaram a sua realização. Haverá, assim, a possibilidade de serem discutidos neste curso vários aspectos relativos ao planeamento, desenvolvimento e implementação de uma investigação científica de qualidade.
Neste curso irá também ser apresentado o Centro Nacional de Colecção de Dados em Cardiologia (CNCDC), com o objectivo de se perceber melhor como funciona e como poderão, futuramente os internos e jovens cardiologistas interagir e solicitar o apoio deste centro. Estará presente nesta reunião a estatista da SPC, Dr.ª Adriana Belo, a qual vai apresentar um pouco o que é o CNCDC e explicar como, de futuro, eles poderão interagir com ela e solicitar o seu apoio.
Finalmente, o último curso pré-congresso é dedicado à área da imagem na avaliação da doença coronária, nos vários formatos, quer da área não invasiva, quer da invasiva. Penso que será muito interessante para clínicos, uma vez que vai ser debatida de uma forma exaustiva toda esta temática de avaliação por imagem dos pacientes com doença coronária. Todos estes cursos terão uma duração de três a quatro horas.
JC – Quantos participantes esperam?
LG – Esperamos manter os números habituais, isto é, cerca de 1800 participantes. Vamos tentar trazer a este Congresso um pouco de alegria e juventude. Para além dos participantes habituais, contamos ter estudantes de Medicina envolvidos nos trabalhos. Vamos convidar os alunos das várias faculdades de Medicina para estar presentes neste evento, tendo apenas de pagar uma inscrição simbólica de 50 euros. Para além disso, convidei a Tuna da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra a fazer parte do evento, para alegrar o ambiente do nosso Congresso.
JC – Quais são as suas expectativas para este Congresso?
LG – Tenho a expectativa de proporcionar aos participantes deste Congresso um ambiente tranquilo e intelectualmente estimulante, onde seja possível fazerem a sua actualização e a sua formação médica contínua de elevada qualidade.
Há um aspecto extremamente importante nestes congressos: o
networking. O Congresso Nacional é, por excelência, um local privilegiado para as pessoas apresentarem a sua produção científica, interagirem, conversarem, reverem amigos, estabelecerem contactos e projectos científicos futuros comuns. Portanto, esta é, seguramente, uma oportunidade e um local único para que estas actividades decorram com sucesso.
JC – Como presidente do Congresso, que conselhos/mensagens deixa aos participantes?
LG – A Comissão Organizadora está a trabalhar arduamente para produzir um Congresso que proporcione a todos uma estada agradável e bem sucedida em Vilamoura. Um programa científico de qualidade está a ser preparado. Palestrantes de elevada qualidade científica e pedagógica irão ser convidados a participar. O ambiente será propício à troca de ideias, num ambiente tranquilo e positivo. O melhor da investigação portuguesa na área cardiovascular irá ser apresentado neste Congresso. A vertente de responsabilidade social, tão importante na nossa profissão, não será esquecida no nosso Congresso.
Esta reunião está a ser desenvolvido por uma pequena e dedicada equipa para a grande equipa que é a Cardiologia Portuguesa. Espero que todos desfrutem deste momento único que é este vosso Congresso, o Congresso da Sociedade Portuguesa de Cardiologia. Sejam bem-vindos a Vilamoura!