Situada no 5.º piso desde Outubro de 2010, a Unidade Funcional de Oncologia Médica do Hospital de Nossa Senhora do Rosário, no Barreiro, tem como principal objectivo prestar cuidados especializados e de uma forma apropriada, tanto a doentes com patologia oncológica, como hematológica. Apesar dos pacientes permanecerem na estrutura o mínimo tempo possível, o seu director, Dr. Jorge Espírito Santo, considera que as novas instalações permitem oferecer-lhes um «espaço muito mais digno».
A Unidade Funcional de Oncologia Médica do Hospital de Nossa Senhora do Rosário, no Barreiro, foi inaugurada oficialmente em Março de 1994, resultado de um pré-projecto iniciado na década de 90.
Situada, desde Outubro de 2010, no renovado 5.º piso, a unidade passou, ao longo dos anos, por várias etapas e localizações dentro do hospital, estando agora num espaço que à partida se considera definitivo.
Sob a direcção do Dr. Jorge Espírito Santo, desde 1996, esta unidade, onde são seguidas não apenas patologias oncológicas, mas também hematológicas, tem como principal objectivo prestar cuidados especializados, e de uma forma apropriada, a este tipo de doente.
Com o passar do tempo, a unidade foi crescendo e o que faz hoje é, de acordo com o seu director, «incomensuravelmente mais do que em 1996», podendo afirmar-se que, para além da inovação, verificou-se também um «grande crescimento da actividade». Isto deve-se tanto ao aumento da incidência do cancro como à evolução terapêutica que, sendo mais eficaz, permite maiores tempos de sobrevivência. «Existem, actualmente, muito mais doentes vivos e livres de doença», afirma o oncologista, referindo que, quanto aos que se encontram com a patologia, «é possível mantê-los vivos durante muito mais tempo, com o advento das novas formas de tratamento».
Número de doentes aumenta a cada ano
Mesmo com o aumento, a cada ano, do número de doentes, a Unidade Funcional de Oncologia Médica não tem lista de espera. Em 2010 foram registados cerca de 650 novos doentes, para um total de 12.800 consultas de Oncologia e Hematologia.
«Se fizermos a comparação destes dados com os de há cinco anos, pode verificar-se que a actividade assistencial realizada neste espaço era exactamente metade. Foi uma grande progressão», refere.
Como consequência desta subida, quer o número de doentes, quer o de tratamentos tem também aumentado. Contudo, o número de sessões em Hospital de Dia tem crescido de forma muito menos pronunciada, uma vez que existe, actualmente, um conjunto de doenças possíveis de tratar com medicação oral. Desta forma, no ano passado, foram efectuadas 9 mil sessões em Hospital de Dia.
No que diz respeito ao internamento, e porque estas são especialidades essencialmente ambulatórias, os doentes devem permanecer internados o mínimo tempo possível.
Nas 11 camas deste espaço, que se situa ainda nas antigas instalações, foram internados cerca de 350 doentes, tendo uma taxa de ocupação de 85% e uma demora média de oito dias. «Acolhemos muitos doentes para tratamento paliativo, o que prolonga um pouco os internamentos», indica.
A hospitalização, regra geral, é reservada para as complicações, quer da doença, quer da terapêutica, para as patologias que estão em fase de progressão e, ainda, para a execução de terapêuticas que não podem ser feitas em Hospital de Dia.
Pode afirmar-se que os tipos de cancro que requerem mais frequentemente o internamento são os da mama, do cólon, do estômago, do pulmão e da próstata, bem como as neoplasias hematológicas, sobretudo os linfomas e os mielomas.
Um espaço «mais digno»
Espaçosas, luminosas e pintadas de salmão, as novas instalações ocupadas pela unidade permitem oferecer, tanto aos doentes, como a quem nelas trabalha, um «espaço muito mais digno».
O novo piso, destinado à área de ambulatório, é mais extenso que o anterior e permite ter uma nova disposição do espaço, assim como condições completamente diferentes. Tudo «para benefício dos doentes, em primeiro lugar, mas também para melhorar as condições de trabalho dos profissionais».
«O actual Hospital de Dia nada tem a ver com o anterior», exclama, contando que, além de amplo, tem mais quatro postos de tratamento. Existem agora à disposição dos doentes 12 cadeirões e três camas, num total de 15 postos.
Com as novas condições, a unidade consegue, com mais facilidade, acomodar as consultas das diferentes valências, que não são apenas a Oncologia e a Hematologia, mas também a Nutrição, a Consulta da Dor, a Psicologia e o apoio social.
«Tentamos agilizar tudo ao máximo, para que os doentes estejam na Unidade o mínimo tempo possível e, finalmente, temos gabinetes suficientes para acomodar tudo aquilo que gostaríamos de ter desde o início», observa o Dr. Jorge Espírito Santo.
A área de Ambulatório funciona de segunda a sexta-feira, entre as 08.00h e as 20.00h. A par dos procedimentos em Hospital de Dia e das consultas externas, os doentes, seguidos na unidade podem recorrer a uma consulta não programada, sempre que sintam que estão com algum problema ou tenham uma questão a colocar.
Doentes hematológicos integrados na unidade
No que respeita ao quadro de profissionais de saúde, o Dr. Jorge Espírito Santo indica que, no momento, existem cinco oncologistas, um hematologista e dois pneumologistas que se deslocam à Unidade duas vezes por semana. Conta, ainda, com nove enfermeiros, quatro auxiliares de acção médica, duas anestesistas (que realizam a Consulta da Dor Crónica) e cinco funcionárias administrativas.
Ao ser questionado, mais especificamente, acerca do tratamento dos doentes hematológicos dentro da unidade, o director responde que considera que «estes pacientes devem estar integrados num serviço de Oncologia que seja capaz de lhes prestar os cuidados de que necessitam». E acrescenta: «Esse é o espírito que existe aqui.»
Quanto ao facto de haver apenas um hematologista na Unidade – o Dr. Ricardo Costa –, o Dr. Jorge Espírito Santo nota que, para já, não se justifica pedir a contratação de um novo especialista, afirmando que a sua presença é, sem dúvida, uma mais-valia para a unidade e para os doentes hematológicos a que ela recorrem.
Hematologia de um para muitos
O único hematologista da unidade e também do hospital trabalha no espaço entre três a quatro vezes por semana. A colaborar com a equipa desde 2005, o Dr. Ricardo Marques da Costa vê todos os doentes hematológicos da instituição e considera que o tempo de consultas que efectua é sufi ciente, uma vez não existir lista de espera.
«Comecei por vir uma vez por semana e tenho vindo a aumentar a quantidade de horas à medida que o número de doentes vai também subindo». Há cada vez mais doentes com patologia, tendo-se registado, no passado ano, 184 novos casos só para a Hematologia e um valor acumulado, em 2010, superior a 1600 consultas.
A principal causa de envio de doentes à Consulta de Hematologia é a gamapatia monoclonal. Todavia, os maiores motivos de «consumo» de consulta e de tratamentos são os linfomas, muitas anemias e algumas leucemias crónicas.
«Apesar de estar englobado numa unidade de Oncologia, tenho liberdade para fazer toda a Hematologia e não apenas a Oncológica. É isso que faço e que gosto de fazer», explica.
Por outro lado, há um par de patologias que o Dr. Ricardo Marques da Costa sistematicamente não trata, nomeadamente «as leucemias agudas em doentes que precisam de tratamento agressivo com intuito curativo e as coagulopatias graves, que podem necessitar de tratamento urgente».
«Sou o único hematologista do Hospital, não estou na instituição todos os dias e considero que estas situações devem ser tratadas num ambiente que disponha de um especialista em Hematologia 24 horas por dia», fundamenta o médico, acrescentando que, por não ser o caso, prefere «enjeitar essa responsabilidade e continuar a proporcionar a esses doentes o melhor tratamento possível, todavia, noutra instituição».
Doentes tratados segundo o estado da arte
Em termos estritamente hematológicos, os doentes que recorrem à Unidade Funcional de Oncologia são tratados de acordo com «o estado da arte». Os protocolos seguidos são, segundo o Dr. Ricardo Marques da Costa, «os últimos recomendados e estabelecidos por organismos de idoneidade científica credível e provada».
E afirma: «Actualmente, no âmbito da Hematologia e, mais especificamente, da Hematoncologia, são utilizados os melhores e mais eficazes protocolos, sem restrições», sublinhando que o facto de haver, dentro do hospital, um serviço de Radioterapia «é uma vantagem enorme em relação a outros serviços de Hematologia e a outros hospitais».
Quando questionado acerca das taxas de sucesso, o hematologista responde que a unidade está, neste momento, a efectuar essa avaliação. «O eventual sucesso das unidades de Oncologia está agora muito em discussão. Estamos nesta altura a avaliar os nossos doentes, a colocá-los numa base de dados, para podermos tirar conclusões e verificar se nos encontramos em conformidade com as referências da literatura ou não», explica, presumindo que para «a maior parte das doenças a unidade está de acordo com aquilo que é hábito ver em trabalhos internacionais para cada uma das patologias, em termos de sobrevida».
Casos difíceis discutidos com especialistas de outras entidades
No que diz respeito às principais dificuldades sentidas no tratamento dos seus doentes, e uma vez que está integrado numa unidade de Oncologia, o Dr. Ricardo Marques da Costa afirma que o seu único obstáculo se prende com o facto de ser o único hematologista do espaço e não ter com quem discutir os casos mais complicados.
«Quando me vejo perante uma situação difícil, quando tenho dúvidas e a literatura não as resolve, tenho de me socorrer dos meus colegas de outras instituições, no entanto, esse diálogo nem sempre é tão presente, actual e imediato quanto eu gostava», observa.
E acrescenta: «Contudo, estou muito bem secundado pelos oncologistas, que tratavam doentes hematológicos antes de eu cá chegar, que sabem, também, de Hematologia e que, obviamente, me ajudam.»
Além disso, todos os serviços ditos de apoio «funcionam muito bem», sobretudo, a Anatomia Patológica, o Laboratório de Análises Clínicas, a Imagiologia e a Radioterapia.
Em relação à sua actividade como hematologista e às eventuais limitações, no que diz respeito à «capacidade de prescrição e de tratamento dos doentes, de dispor de uma unidade de Cuidados Intensivos ou de Internamento», o especialista afirma não ter qualquer dificuldade nesse âmbito.
E sublinha: «Devo louvar o chefe (Dr. Jorge Espírito Santo), porque me dá inteira liberdade para prescrever aquele que considero ser o tratamento adequado para o doente que tenho em mãos. Não há qualquer obstáculo em tratar os meus doentes da melhor forma possível.»
Espaço dispõe de óptimas condições
Considerando-se um indivíduo exigente, o hematologista afirma não conhecer nenhum outro sítio «com tão boas condições» para tratar doentes hematológicos como a Unidade Funcional de Oncologia.
Actualmente, pensa-se implementar no espaço um sistema de gestão de qualidade, com vista à certificação. «Existe alguma falta de entrosamento entre os vários grupos profissionais que trabalham nesta unidade. Não está tudo tão alinhado e normalizado, como eu – que sou também auditor de Qualidade no âmbito da Saúde – gosto de ver e de participar» menciona, referindo que, com a implementação do Sistema de Gestão de Qualidade, «poderiam burilar-se algumas ligações, o que certamente melhoraria o desempenho da unidade».
Para terminar, o hematologista afirma que gosta muito de trabalhar no espaço, que se sente «acarinhado» e não tem qualquer dificuldade em «fazer valer» os seus argumentos.
«Não tenho dificuldade em marcar qualquer exame complementar de diagnóstico para os meus doentes. Apesar de haver lista de espera, consigo fazer com que os meus doentes não fiquem parados nessas listas», fundamenta.
E conclui: «Tenho total compreensão dos meus colegas e corre tudo muito bem.»
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